Duchamp

por Salomão Rovedo

Por que Marcel Duchamp deixou o Rio de Janeiro? A relação artística e amorosa do pintor e escultor francês Marcel Duchamp com o xadrez e também com a artista brasileira Maria Martins e o diálogo do Ready Made com outras linguagens, o colocam aqui entre nós. Em 1917 Marcel Duchamp apresentou “A Fonte”, obra de arte que escandalizou todo mundo: era apenas um mictório público parisiense usado. A obra desencadeou revolta, sublevando o dadaísmo e criando a dissidência Ready Made – técnica que retira a função do objeto e o transforma em obra de arte. A novidade fervilhou na Europa, USA e atravessou oceanos: Nélson Leirner enviou para o IV Salão de Arte de Brasília um porco empalhado, com um presunto pendurado no pescoço. O Ready Made se configurou numa ação extra-arte: o presunto foi saboreado pelos empregados da transportadora que levou a obra para Brasília. O porco empalhado foi exposto só com a correntinha no pescoço. Maria Martins não ficava atrás: sua produção revestia-se de obras cujas figuras seriam incapazes de serem identificadas, se não fosse o presunto. A influência Maria-Duchamp-Maria perseguiu toda a produção da artista brasileira. O erotismo nada sutil e a feminilidade selvagem estão representados em “Samba flows in her veins”: de frente está a mulher semivestida por um manto que não cobre nem mostra a nudez sensual, enquanto na parte traseira, a pose dogstyle mostra clara sexualidade, entrega, coito in samba. Ou seja, dadaísmo puro. Em toda a sua produção Maria – como Duchamp – expõe erotismo em forma tridimensional, dando ênfase para a genitália das figuras. Então, por que Marcel Duchamp deixou o Rio de Janeiro? Por que não temos mais o Torneio de Xadrez Duchamp in Rio (patrocinado pela Fundação Duchamp), que seria logo depois do Festival de Xadrez que ora se realiza no país hermano e vizinho Uruguay?