Juninas

por Salomão Rovedo

Então junho chegou. Maio deixou todas as mães felizes, com as recordações do dia treze de maio, aqui e na Cova da Iria. Estamos em junho e eu poderia cantar oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais – como Casimiro de Abreu – porque as festas juninas eram parte desse pedaço de vida. Eu era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, não era belo, mas mesmo assim, havia mil garotas a fim, parou de crescer cabelo na palma da mão, a penugem do bigode escureceu, coisas desse tipo. Agora vejo a na TV as festas juninas de 2023, o migrante bisneto de Virgulino chamando de canjica o meu mingau de milho – o munguzá dos outros – anunciando música sertaneja em vez de forró, coisa tal e qual posso classificar de ignorância ou futurismo. Mudou o festejo junino ou mudei eu? Aonde estará aquela canjica de milho verde, amarelada como o ouro de nossa bandeira, toda coberta com um lençol de canela? Onde acharei uma bandeja de manuê assado em fogão de barro, cuja superfície as cozinheiras deixavam enfarruscar até imitar o couro da onça pintada? Mudou o São João ou mudei eu? E por fim, cadê o urro das ronqueiras, dos pandeirões, dos tambores e matracas? Cadê o Boi? Os brincantes devoravam a carne salpresa assada, com farofa, linguiça, toicinho, aqueciam o espírito com grogues de cachaça e tiquira no gargalo, aqueciam o couro dos tambores no braseiro para recuperar o tom original, o soar seco e ritmado das matracas do Boi da Madredeus acordava a todos na madrugada, quando o cantante pedia licença ao dono da casa para receber a visita do boi. Visita que só acabava sol alto, na chamada para o almoço. Ora… (09/06/2023)